Um relatório divulgado nesta terça-feira, 20, pela Bernstein, que possui mais de US$ 3 trilhões de ativos sob gestão, aponta que a tokenização de um potencial de rápido crescimento nos próximos cinco anos, podendo resultar em um novo mercado estimado em US$ 5 trilhões (R$ 23,9 trilhões, na cotação atual) até 2028.
A estimativa da empresa leva em conta o potencial de tokenização de ativos como títulos do Tesouro de diferentes governos ao redor do mundo, títulos emitidos por empresas, ações, ativos imobiliários e também a digitalização de moedas digitais, a partir das stablecoins e das moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês), caso do Real Digital.
No relatório, os analistas da Bernstein explicam que a tokenização é o processo de conversão de ativos do mundo real em ativos tangíveis ou intangíveis dentro de blockchains baseados em tokens. Nesse sentido, ela representa uma continuidade da desmaterialização no mercado financeiro, que passou pelo surgimento das ações para representar as divisões acionárias em empresas.
“Os benefícios incluem liquidação mais rápida, transparência, segurança e interoperabilidade, que são absorvidos em ativos baseados em blockchain. A tokenização também permite o fracionamento da propriedade, o que ajuda na acessibilidade e na liquidez para os ativos subjacentes. No entanto, o maior impacto é a programabilidade de ativos baseados em blockchain”, destaca o relatório.
“Por exemplo, os fluxos de valor das estruturas de ativos financeiros poderiam ser programadas digitalmente, superando assim os riscos de contraparte e digitalizando e automatizando fluxos de trabalho, eliminando a redundância”, explicam os analistas. Combinadas, essas vantagens deverão ser responsáveis por atrair empresas para o universo da tokenização, ajudando na sua expansão nos próximos anos.
Desafios
A Bernstein destacou que a expansão dessa prática também deve abrir espaço para o surgimento de novas fontes de receita para grandes empresas do mercado, englobando áreas de “custódia dos ativos do mundo real para respaldar o ativo digital, emissão de tokens para os ativos subjacentes e facilitação de um mercado secundário líquido
de negociação”.
O relatório cita diversos exemplos de empresas tradicionais que já lançaram negócios envolvendo tokenização, como o JPMorgan, a Siemens, o Banco da China e o Franklin Templeton. Ao mesmo tempo, negócios tradicionais também poderão “sentir a pressão da desintermediação” que a prática vai gerar.
“A tokenização de títulos e imóveis fornecerá concorrência a esses negócios legados, oferecendo emissões e taxas mais baixas para custos operacionais por meio da desintermediação baseada em contratos inteligentes. As taxas de securitização podem ficar sob pressão do tokenização de ativos”, observam os analistas.
Por outro lado, o desenvolvimento crescente de CBDCs, como o Real Digital, deve ajudar a aumentar a tração de pagamentos envolvendo ativos digitais tanto entre pessoas quanto entre empresas. Para a Bernstein, esse tipo de ativo tem potencial para ganhar espaço nos pagamentos no mundo físico.
Ao citar os desafios que a tokenziação enfrenta, o destaque do relatório é a “incerteza regulatória”: “a tokenização usando blockchain só pode ter sucesso quando os formuladores de políticas apreciarem os benefícios de blockchains e de como os criptoativos são uma parte indispensável das operações de blockchains.
“Mesmo que os formuladores de políticas se sintam confortáveis com blockchains, a tokenização reduz as ineficiências do mercado, algumas das quais são fontes de receita tributária para os governos. Os formuladores de políticas podem se opor às eficiências que a tokenização pode trazer”, destaca o relatório.
Por isso, a Bernstein não descarta que os reguladores lidem de forma adversa com a tecnologia blockchain, com destaque para um ambiente negativo no momento nos Estados Unidos, ou então tomem medidas que acabem reduzindo algumas das vantagens da prática, como estabelecer que as leis para o mercado financeiro valem apenas para ativos reais, e não tokenizados.
Outros pontos citados no relatório são a necessidade da tecnologia de ganhar mais escalabilidade para processar um número maior de transações e reduzir os custos das operações, e também lidar com ameaças de segurança, demandando “níveis altos de segurança de informação”.
Via exame